Escrito por Maya Santos
Considerado uma das maiores manifestações religiosas do Brasil, o festejo do Círio de Nossa Senhora de Nazaré ou apenas Círio de Nazaré, como é popularmente conhecido é celebrado desde 8 de outubro de 1793. O evento arrasta mais de 2,5 milhões de fiéis pelas ruas de Belém. Mas, qual a importância dessa festa para o estado do Pará?
“A palavra círio vem do grego cereus, que significa ‘uma grande vela que se acende’. Então, o círio vem exatamente da ideia de que a procissão era feita à noite com velas. Na prática, Círio de Nazaré representa um pouco dessa homenagem que se faz à Nossa Senhora por meio de várias procissões, várias manifestações, pois são mais de quatorze procissões que acontecem em quinze dias de festividade”, explica o Teólogo e Professor de uma das unidades da Unama, Mário Tito Almeida.
Durante esse período de festa, a cidade toma outra movimentação. “É uma multidão de pessoas. Estamos falando em mais de dois milhões de pessoas nas ruas de Belém somente na grande procissão, que é no segundo domingo de outubro, mas você acaba mexendo com toda a dinâmica social do estado”, detalha.
Devido às manifestações religiosas e culturais marcantes, o período é intitulado como o “Natal dos paraenses”, pois a festa tem como principal característica, a confraternização. A junção de famílias também acontece através das comidas típicas como a Maniçoba, o Pato no Tucupi, dentre outros alimentos. “Há uma importância, eu diria religiosa. Uma importância cultural e uma claramente econômica. O fato é, que o Círio é um catalisador de tudo aquilo que se entende como identidade paraense”, enfatiza o teólogo.
Denominada de “A Grande Procissão” ou “A Grande Romaria”, o trajeto do Círio de Nazaré sai da Catedral Metropolitana de Belém, por volta das sete horas da manhã e vai até a Basílica de Nazaré. Apesar de ser um itinerário curto, a peregrinação se estende por horas, devido às grandes manifestações realizadas durante a passagem da imagem de Nossa Senhora de Nazaré pelas ruas do centro de Belém.
CURIOSIDADES DO CÍRIO DE NAZARÉ
- A BERLINDA
(Foto: Alan Pantoja/ICalendário)
Segundo o teólogo Mário Tito Almeida, existem duas simbologias muito fortes e solenes para os devotos que acompanham a procissão. A primeira é a berlinda, que é uma caixa feita de vidro e madeira, onde a imagem de Nossa Senhora é colocada para ser transportada durante a romaria. O objeto é ornamentado com muitas flores e se torna grande símbolo. Para os fiés, é como se fosse uma casa onde, de alguma forma, todos querem recebê-la. Por este motivo, as pessoas tentam fazer da sua casa e do seu coração, uma grande berlinda conduzindo a imagem segundo seus próprios valores e fé em Nossa Senhora.
- A CORDA
Outra simbologia importante é a corda. Inicialmente ela servia para puxar a berlinda, que era conduzida num carro de rodas e puxada pelos romeiros até a Catedral. "Posteriormente essa corda, que continua atrelada à berlinda, ela não exatamente puxa - apesar de ter essa força também - porque esse carro agora, ele é empurrado também por pessoas, guardas de Nossa Senhora de Nazaré. A corda representa uma profunda ligação entre o fiel e àquela imagem e depois ao transcendente, ao religioso que todos se sentem no dia do sírio”, destaca Mário.
(Foto: Acervo Iphan)
“Importante destacar, que durante a procissão existem vários carros que são empurrados e esses carros recebem as promessas (...) as pessoas que pagam as suas promessas em forma de objetos de cera. Por exemplo, se alguém fez a promessa de conseguir uma casa, faz uma uma casa de feira e entrega nesses carros. Teve uma cura de um problema na perna, trás uma perna de cera e coloca no carro. É uma forma de de você agradecer.” Complementa.
DEVOÇÃO
No Brasil, outras manifestações religiosas são realizadas e igualmente conhecidas, mas a história da Nossa Senhora de Nazaré tem detalhes que conectam as pessoas em maior vulnerabilidade social nos seus dias de socorro e também de gratidão.
“A ideia da imagem que é encontrada por um caboclo paraense às margens do Igarapé, e de lá é construída a Basílica de Nazaré, mostra a ideia de uma religião que nasce do meio mais pobre, do meio mais necessitado de fato. Por isso, os mais pobres se apegam mais a fé." Relata o teólogo.
TURISMO
(Imagem: Rodrigo Pinheiro/Agência Pará)
Organizado pela Arquidiocese de Belém, Basílica Santuário de Nazaré, Diretoria da Festa de Nazaré, Governo do Estado do Pará e Prefeitura de Belém, o Círio de Nazaré é repleto de atividades que unem devoção, educação e movimentação econômica.
Além dos setores de hotelaria, alimentos e serviços, o turismo é também, outro ramo que tem grande crescimento. Somente na edição passada, o Pará recebeu aproximadamente 50 mil turistas nacionais e internacionais e chegou a movimentar em média US$ 19,1 milhões em receitas para o estado, segundo informações da Agência Pará.
Sobre isso, Mário Tito explica que o turismo ganha muito, principalmente quando se tem foco na experiência ecológica. Ele também ressalta que um outro setor que se destaca nesse período é o de jornalismo ecológico, dado que Belém hoje tem uma forte influência nas discussões ambientais. “Por conta do Círio e por conta da questão ambiental, Belém passa a ser um centro muito forte de dinamismo turístico e também econômico”. Conclui Mário.
Agora que você conhece mais sobre o Círio de Nazaré, que tal conferir a programação completa e aproveitar essa festa de fé em terras paraenses? Acesso o Calendário de Círio!
Comentários