Aulas online, home office, final de semana sem festas e encontros com os amigos. Essa passou ser a rotina da maioria da população brasileira e mundial após a proliferação da Covid-19, doença causa pelo novo coronavírus. Esse isolamento social, apesar de necessário, pode causar alterações na saúde mental, como explica a psicóloga Soraya Matos.
"Como seres humanos, somos seres coletivos. Gostamos de estar em grupo. Fazer parte das relações humanas, dos eventos que acontecem em nossas vidas. Esse isolamento pode gerar um certo desconforto, certas ameaças e o nosso cérebro fica procurando ameaças para se blindar. Nisso, pode-se maximar a ansiedade, o aumento da tristeza e de dores", explana a especialista.
Para amenizar os efeitos que o isolamento pode causar, a profissional recomenda uma série de atividades, que vão de exercícios mentais a físicos. "É importante ter autoconhecimento, praticar atividade física regular, ter respiração ordenada, uma boa alimentação, dormir bem, além de evitar pensamentos negativos e atividades estressantes. Viver o presente", elenca Soraya.
Mesmo sem nunca ter apresentado sintomas, qualquer pessoa pode desenvolver problemas psiquiátricos. Nesta semana, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva, emitiu uma nota sobre os cuidados com a saúde mental que as pessoas devem adotar. Na mensagem, ele mostrou preocupação com os cidadãos que nunca apresentaram tal problema, mas que podem desenvolver devido às circunstâncias atuais.
"(Há) uma real possibilidade de que o momento de isolamento social desencadeie a doença em quem nunca manifestou sintoma. Nesse momento de crise, a saúde mental da população brasileira está em risco e, por isso, informamos constantemente os cuidados que todos, pacientes psiquiátricos ou não, devem ter', evidenciou.
Antônio também reforçou os cuidados que os pacientes psiquiátricos devem ter em tempos de isolamento social. Na mensagem, o presidente alerta para o agravamento destes tipos de quadros. "Precisamos ter atenção redobrada com os pacientes psiquiátricos, visto que os que estão em tratamento podem ter seus quadros agravados e os pacientes em remissão podem ter recaídas e recorrências. Aqueles que estão em isolamento social devem respeitar os seus horários de sono, de alimentação, tentar organizar uma rotina saudável, mesmo em casa, para evitar que a quebra de rotina, além da tensão do momento sejam gatilhos para transtornos mentais", diz trecho da publicação.
Leia a nota na íntegra da ABP:
"A Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP, cumprindo a sua missão de cuidar da saúde mental da população brasileira, reforça as orientações que tem feito nos últimos dias por meio de seus canais oficiais. É fundamental que sigamos as orientações sanitárias do Ministério da Saúde para que possamos diminuir a transmissão e combater a pandemia mundial de Covid-19 em nosso país. Os médicos psiquiatras, assim como todos os demais profissionais da área de saúde, estão na linha de frente para ajudar no atendimento dessa população.
Precisamos ter atenção redobrada com os pacientes psiquiátricos, visto que os que estão em tratamento podem ter seus quadros agravados e os pacientes em remissão podem ter recaídas e recorrências. Além da real possibilidade de que o momento de isolamento social desencadeie a doença em quem nunca manifestou sintoma.
Levando em conta ainda que, além da crise que estamos vivendo, existe, paralelamente, a crise na disponibilização de medicamentos importantes no tratamento de doenças mentais como: Carbonato de lítio, Pamoato de imipramina, Lisdexanfetamina, Dimesilato de lisdexanfetamina, Pimozida, Penfluridol, Palmitato de pipotiazina e Dissulfiram (todos sem patentes e que poderiam ser produzidos pelos laboratórios do Governo Federal). E, levando em conta a liberação da Anvisa de prescrição de medicamentos para 06 meses - o que possibilita que pacientes possam tomar dose maiores do que o necessário, temos configurada uma situação perigosa que pode levar ao aumento de casos de suicídios no país.
Nesse momento de crise, a saúde mental da população brasileira está em risco e por isso informamos constantemente os cuidados que todos, pacientes psiquiátricos ou não, devem ter. Além dos cuidados sanitários indicados - como lavar sempre as mãos com água e sabão, evitar colocar as mãos no rosto, evitar sair de casa, evitar aglomerações, passar álcool e desinfetante nas superfícies e objetos pessoais - precisamos que cada um faça a sua parte, assumindo a responsabilidade da sua própria proteção e daqueles mais suscetíveis à doença.
Também orientamos que as pessoas não interrompam os seus tratamentos sem orientação médica. Aqueles que estão em isolamento social devem respeitar os seus horários de sono, de alimentação, tentar organizar uma rotina saudável, mesmo em casa, para evitar que a quebra de rotina, além da tensão do momento sejam gatilhos para transtornos mentais.
Para tal, estamos solidários ao Ministério da Saúde para que juntos possamos vencer o coronavírus em nosso país. É urgente que a sociedade se una para combater a Covid-19 e impedir o aumento do número de casos em território nacional. Desta forma, a ABP permanecerá informando a população sobre como se prevenir e como cuidar da saúde mental em tempos de isolamento social."
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