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Setembro Amarelo: o que a empresa pode fazer para ajudar seus colaboradores

Pessoas que pensam em suicídio deixam pistas sutis e têm comportamentos que podem ser observados por quem convive com elas
Marcele Lima Por: 30/09/2020 - 09:18 - Atualizado em: 30/09/2020 - 09:45

Em junho deste ano o ator luso-angolano Pedro Lima desapareceu e posteriormente foi encontrado morto em uma praia de Lisboa, em Portugal. As investigações constataram que o homem havia cometido suicídio. Ele seria protagonista de uma novela portuguesa, era considerado galã naquele país. Meses antes de morrer, iniciou tratamento psiquiátrico e tinha prescrição para medicamentos. Amigos próximos chegaram a receber mensagens de despedida, mas colegas de elenco e a produção desconheciam o estado de saúde de Pedro. A morte dele nos uniu, estamos mais disponíveis uns aos outros”, contou uma das atrizes do folhetim, Sofia Ribeiro, no lançamento da novela em meados do mês de setembro. 

Assim como o ator, milhares de pessoas ao redor do mundo sofrem caladas de uma doença que pode ser o estopim para o suicídio: a depressão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente no Brasil quase 6% da população possui a enfermidade. Pensando nisto é que existe o Setembro Amarelo, um mês para conscientização e prevenção do suicídio. “A Campanha surge para desmistificar um assunto que é, sim, delicado, mas que ao entendermos o que ocorre, podemos salvar vidas. Há muito frequentemente uma busca de uma causa externa para 'explicar' um motivo que leva a alguém ceifar a própria vida. Mas se esquece de que há em 95% dos casos um estado mórbido, como um transtorno depressivo ou um transtorno bipolar. E infelizmente menos de 60% daqueles que cometeram suicídio chegaram a ser atendidos por um psiquiatra antes. Mas mais de 70% tinham tentado ou falado da intenção de tentar se matar para alguém próximo”, explica a psiquiatra Adriana Zenaide.

 

O ambiente de trabalho pode ser local do adoecimento e pode ser também o caminho para o resgate de uma vida. Nele é onde, geralmente, boa parte dos profissionais costuma passar pelo menos 8h do seu dia. Para a doutora Adriana, empresas modernas devem enxergar seus funcionários como qualquer ser humano em sua complexidade. “Deve haver respeito aos limites de cada um e estímulo ao cuidado com a saúde mental dos seus colaboradores. Aqueles que se sentem extremamente pressionados por resultados, sem meios, trabalhando no limite, sob grande pressão, vão muito provavelmente desenvolver algum transtorno de ordem psiquiátrica. Funcionários que se sentem acolhidos darão melhores resultados”, diz.

Um dos papéis de um gestor é cuidar do desenvolvimento pessoal dos membros de sua equipe, segundo a Psicóloga  e Coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Ser Educacional, Amanda Buarque. Para isso é necessário o cuidado para não gerar ambientes estressantes e de conflitos. “Gerar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam à vontade para externar suas opiniões, elas se sintam respeitadas, ouvidas, se sintam importantes vai fazer uma grande diferença de modo geral. O gestor inclusive tem um papel importante nesse momento. As cobranças vão existir, mas a forma como se cobra vai fazer uma grande diferença. Quando ele [gestor] cria um clima de proximidade na sua equipe, cria um ambiente de abertura. É papel do líder se importar com seus colaboradores porque se a pessoa não estiver bem psicologicamente, ela não vai render no trabalho”, afirma a psicóloga. 

O perceber que um profissional da equipe não está bem, um primeiro passo do chefe é ouvir esta pessoa. Pode ser o que ela estava precisando naquele momento crítico. O próximo passo é comunicar ao setor de recursos humanos a situação do funcionário, já que este é um setor especializado em lidar também com os problemas emocionais das pessoas que trabalham na empresa. “Existe um trabalho de escuta que o RH e o gestor podem fazer: ouvir o colaborador, se colocar à disposição. O gestor quando perceber que o colaborador não está bem é importante que sinalize para o setor de recursos humanos, para que o setor possa dar a tratativa necessária. Quando a gente gera um ambiente de trabalho positivo a gente previne que as pessoas pensem em tirar sua vida”, orienta a Psicóloga  e Coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Ser Educacional, Amanda Buarque. 

E como perceber que um membro da equipe de trabalho não está bem? 

Os sinais nem sempre são claros. Muita gente pode disfarçar o sofrimento com comportamentos introspectivos, sorrisos além do normal e até as faltas ao trabalho podem ser indicativos, segundo os profissionais de RH. Quem tem mais proximidade com a pessoa pode observar se há marcas de cortes, idas longas ao banheiro e tentar conversar e sinalizar ao superior a preocupação com a mudança do colega. E é importante, além de ficar atento e querer ajudar, respeitar os limites da pessoa. “Convencer alguém sobre a necessidade de tratamento é um processo que pode ser lento e envolve muitos momentos de tensão, quebra de confiança e incertezas.  Por isso, quem ajuda também pode precisar e buscar ajuda. Medo, culpa e raiva são comuns e é importante saber lidar com esses sentimentos numa circunstância tão delicada e ao mesmo tempo grave. Psiquiatras e psicólogos podem ajudar bastante nesse momento”, indica a especialista.

Confira as orientações da psiquiatra para saber ajudar alguém que possa estar passando por uma fase difícil da vida:

Conversar sem julgar

Diálogo e transparência são fundamentais na prevenção, assim como uma atitude acolhedora.

Acompanhar o tratamento

Importante entender que uma pessoa com ideação suicida já perdeu a crença em um tratamento. Assim, estar presente, acompanhar consultas, se mostrar disponível para as orientações que o médico vai passar é de grande valia, assim como levá-la em grupos e em centros de ajuda. .

Fazer entender a necessidade do tratamento médico

A intervenção médica é eficaz tanto porque o paciente precisa de uma escuta terapêutica, como também por precisar ser medicado. 

 

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