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A imunidade é melhorada em resposta ao exercício físico?

Luiz Vieira - Professor do curso de Educação Física da UNAMA Santarém 
Assessoria de Comunicação Por: 28/04/2020 - 12:32
Pelo isolamento solicitado a todos em escala mundial, o sedentarismo/inatividade física surge como um tema relevante. As autoridades recomendam que, mesmo em casa, devamos nos exercitar. Na web há muito conteúdo sobre o assunto, isto é, orientações em atividade física e saúde. Devemos, porém, ter cuidado com nossas referências, isto é, quanto àqueles que nos informam. Por lei, o profissional de educação física é o que tem prerrogativa para atuar nesse contexto, já que é portador de competências e habilidades frente ao tema da atividade física e desporto. Em se tratando de atividade física, surgem questionamentos: o que é imunidade? Ela é melhorada para prática de atividade física?
 
De início, é importante citar que nós somos constantemente sujeitos ao contanto com aqueles que podem nos causar infecções. Somos, de forma intermitente, expostos continuamente a bactérias, vírus extremamente infecciosos, fungos e parasitas, na pele, na boca, nas vias respiratórias entre outras regiões. Tais agentes podem causar doenças agudas letais, como pneumonia.
 
A imunidade é o resultado do trabalho multiconectado do sistema imunológico frente ao combate a microrganismos invasores, à retirada de células/seus detritos inúteis, à memória imunológica. É na medula óssea que as células que fazem parte desse sistema se originam. Estas células se diferenciam e se tornam nas seguintes divisões leucocitárias (glóbulos brancos): linfócitos, monócitos/macrófagos e granulócitos. Elas atuam de forma integrada para impedir doenças por dois modos: (1) pela verdadeira destruição das bactérias ou dos vírus, por fagocitose; e (2) pela formação de anticorpos e linfócitos sensibilizados, capazes de destruir ou inativar o invasor. Vale lembrar que noutras áreas, além da medula óssea, são encontradas todas essas células de resposta imunológica, como nas amígdalas, no baço, linfonodos, timo.
 
Há tempos se sabe que as células do sistema imune agem em resposta (são sensíveis) às condições acima, mas também quando expostas a cargas de estresse/situações agressivas, como o exercício físico (LEANDRO et al., 2007). O exercício causa um desvio do estado de homeostase orgânica, gerando resposta aguda e ajustes crônicos. Isso interessou pesquisadores ao estudo das possíveis relações entre o exercício e a modulação da resposta imunológica - imunologia do exercício (COSTA ROSA; VAISBERG, 2004).
 
O interesse pelo estudo do exercício físico como modelo de estresse ao eixo neuroimunoendócrino remonta ao início do século XX, ganhando notoriedade a partir da década de 70. Atualmente, muito se sabe dessa relação, mas ainda persistem muitas lacunas (controvérsias), quanto às próprias variáveis que constituem o treinamento, como “intensidade, cronicidade, adaptação e duração da sessão de exercício ou do período de treinamento, com os diferentes aspectos da resposta imune.”, alertam os pesquisadores Costa Rosa e Vaisberg (2004).
 
Bastante se sabe quanto à variável intensidade do exercício e as alterações distintas na função imune. As alterações distintas na função imune são da seguinte forma:
 
Exercício de intensidade leve a moderada: pode muito bem ser dito como bonzinho, fundamentalmente o moderado. Está associado à diminuição da suscetibilidade às doenças (diminuição de episódios de infecção), por agir no aumento da função imunológica, melhorar os mecanismos de defesa do organismo, devido ao aumento da função de leucócitos e neutrófilos, especialmente no período pós-atividade física. Também melhora os mecanismos de defesa antioxidante, proteção celular contra as espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, conforme Leandro et al. (2007).
 
Exercício de alta intensidade: as evidências o rotulam como o vilão, por gerar efeito negativo, fundamentalmente na fase de recuperação pós-atividade intensa e prolongada. Neste período, ele causa linfopenia (queda acentuada no número de linfócitos), neutrofilia (elevação do número de neutrófilos no sangue) e efeitos a outras células/anticorpos. Causa imunossupressão, isto é, induz inibição de muitos aspectos da defesa do organismo (enfraquece os mecanismos), prejudicando a proteção contra agentes infecciosos e oncogênicos, bem como a auto-imunidade e os processos alérgicos (LEANDRO et al., 2007). Diz-se de “período de imunossupressão após exercício de alta intensidade.” (COSTA ROSA; VAISBERG, 2004, p. 112).
 
Diante do exposto, fácil é a identificação do público que se enquadra como os que têm maiores riscos de sofrerem pelo efeito negativo da resposta imune: os atletas de alto nível. Claro que também são aqueles que praticam, eventualmente, exercício além de determinado limite fisiológico. O que ocorre com esse público? Eles são mais suscetíveis a adquirir infecções do trato respiratório superior (ITRS), especialmente em períodos de treinamento intenso, bem como após competições extenuantes (COSTA ROSA; VAISBERG, 2004; LEANDRO et al., 2007). O tempo da resposta é algo ainda a ser melhor estudado.
 
Exercitar-se, portanto, é benéfico à saúde imunológica, porque pesquisas epidemiológicas “sugerem que indivíduos que se exercitam têm uma menor incidência de infecções bacterianas e virais, bem como menor incidência de neoplasias”, defendem Costa Rosa e Vaisberg (2004).
 
Não por menos que o exercício físico vem sendo consolidado como tratamento não farmacológico para várias doenças, como as relacionadas ao sistema imune. São elas: neoplasias, asma, doença de Alzheimer e doenças auto-imunes crônicas (AIDS e lúpus eritematoso sistêmico). Enfim, a imunidade é, sim, melhorada em resposta ao exercício físico. Este nos torna menos suscetíveis a adquirir ITRS e neoplasias.

 

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